quinta-feira, maio 17, 2007

Adoro trema!


Mas, se o acordo ortográfico discutido pelos países que falam o português entrar em vigor já em 2008, como diz o MEC, ela não vai mais existir. Em compensação, ganham status de participantes do abecedário as letras k, w, y. Assim, o alfabeto passa a ter 26 letras. Nada mais justo, para quem tem o sobrenome Schibik (é o meu último sobrenome, para quem não sabe).

A mudança vai abolir o acento circunflexo de palavras como vôo, abençôo e enjôo (paroxítonas terminadas em "o" duplo). Já pensou a remelexo que uma mudança como essa fará nos livros didáticos, por exemplo? Para virar lei, o acordo ainda deve passar na Câmara e no Senado, para sanção de um decreto legislativo por parte dos presidentes dos países. Será que vai ser mais uma daquelas leis anódinas? ;-)

A adesão de Portugal ao acordo deverá ser automática, pois ele já foi assinado por Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, além do Brasil. Mesmo com a adesão automática de Portugal, o governo brasileiro e a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) negociam em Lisboa para que o país aceite o acordo e coloque em prática as medidas necessárias para o início das mudanças ortográficas. Guiné-Bissau, Moçambique e Angola também não aderiram ao tratado. Timor Leste integrou-se ao grupo quando se tornou independente.

Sabe há quanto tempo existe o tal acordo? Há 16 anos, desde 1991. A ABL (Academia Brasileira de Letras) está tão empenhada nas mudanças que até oferece um serviço de tira-dúvidas do português pela Internet. As perguntas são respondidas pelo professor Sérgio Pachá em até quatro dias.

Mudança na ortografia

A língua portuguesa é a quinta mais falada do mundo. São mais de 230 milhões de pessoas. Os portugueses trocarão o "húmido" pelo "úmido". Também desaparecem da língua escrita, em Portugal, o "c" e o "p" nas palavras em que ele não é pronunciado, como "acção", "acto", "adopção", "baptismo", "óptimo" e "Egipto". O que me parece óptimo. O Português já é uma língua complicada. Colocando letras que não são pronunciadas nas palavras, a coisa fica ainda mais complicada. Fala sério! Fora que assim, nós, pobres coitados jornalistas brasileiros, ganhamos uma chancezinha adicional de entrarmos no mercado de trabalho português, já que o mercado tupiniquim não está pra peixe.

Porém, algumas mudanças mexem com a gente também: não usaremos mais o acento circunflexo nas terceiras pessoas do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo dos verbos "crer", "dar", "ler", "ver" e seus decorrentes, ficando correta a grafia "creem", "deem", "leem" e "veem". O que pode facilitar a vida dos vestibulandos.

Mas eu vou sentir saudades do trema, que desaparecerá completamente. Poderemos escrever "linguiça", "sequência", "frequência" e "quinquênio" desse jeito. E vai-se embora todo o charme desse sinal lingüístico tão bacaninha. Dessa eu não gostei. Sentirei imensas saudades. Mas como navegar é preciso, há ainda outras duas mudanças importantes:
1) A criação de dupla grafia em alguns casos, para fazer diferenciação, como o acento agudo na primeira pessoa do plural do pretérito perfeito dos verbos da primeira conjugação, tais como "louvámos" e "amámos". Estranho? Também acho.
2) A eliminação do acento agudo nos ditongos abertos "ei" e "oi" de palavras paroxítonas, como "assembleia", "ideia", "heroica" e "jiboia".
E durma-se com um barulho desses.

(contribuição do Felipe Datt, com a informação)

15 comentários:

  1. O problema é mexer em "regras" que fazem sentido. Muita gente sempre encarou as regras gramaticais como decoreba, mas quando se vê o sentido das mesmas, fica muito mais fácil. Fico pensando que é uma questão muito delicada esta de se regular as mudanças na língua. Ótimo que as novas letras, mais doq usadas, entrem no alfabeto. Péssimo que certas acentos diferenciadores caiam em desuso.

    Beijos

    Gabi

    Em tempo: vc cumpriu a promessa que fez ao Paulo (anódicas).

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  2. Anônimo3:56 PM

    Quando eles virem, que não costumo acentuar meu nome....:)

    Prefiro como está!

    Bom fim de semana

    bj

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  3. Anônimo10:54 AM

    Eu gosto do portugues do jeito que é..adoro essas diferenças e ajo o portugues de Portugal zoado que só.
    Se eles querem se adaptar ao mundo por que nós temos que mudar tambem?
    Vai mesmo dar muito trabalho....

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  4. Anônimo2:14 PM

    acho que não vou ne adaptar!

    Bjos

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  5. Nossa... muito informativo esse post... mas quero só ver eu aprender tudo isso eheheheheh!!!
    O trema eu não uso mais, mas tirar uns acentos até que vai facilitar a vida rs. rs...

    bjs

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  6. Ai, Sil, acho que vai dar nó na minha cabeça. Bjs e boa semana.

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  7. Posso falar? Eu acho que mudanças para facilitar devem sim existir, mas confesso que fico um pouco enciumada, sabe? É como se eu não quisesse perder a condição de ter um bom conhecimento do Português, com todas as suas regrinhas e exceções... sei lá. Mas, vamos em frente.

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  8. Se Portugal aderir a essas mudanças (o que eu duvido) o português vai ficar muito mais brasileiro... algumas mudanças seriam absurdas: acção, acto, adopção e baptismo, ainda vá, porque nós não dizemos baptismo mas sim "batismo". Em todo o caso, essas letrinhas têm uma função fonética: abrem a vogal anterior quando esta não é sílaba tónica. Agora, para outras palavras como facto, seria absurdo mudar porque nós dizemos facto, não dizemos fato. Fato é outra coisa (vocês chamam paletó, que não é uma palavra portuguesa).
    Espero que Portugal não adira a esse disparate que descaracterizaria o português.

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  9. Rectificando: descaracterizaria o português de Portugal ou português europeu como também já li.

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  10. Já agora, em relação ao trema, em Portugal já se usou e eu gostaria que se voltasse a usar pois tem uma função. Ora aí está uma coisa em que eu sempre concordei com a grafia brasileira. O que não faz sentido é eliminá-lo.

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  11. Obrigada também, pela visita à Biblioteca de Jacinto. Respondendo ao teu comentário, o português europeu não é certo, nem errado. É o nosso. O que está mal é querer uniformizar aquilo que não é uniformizável. A morfologia das palavras tem uma razão de ser, relacionada com a sua etimologia. Quando nós escrevemos "baptismo" (onde não lemos o p) ou facto (onde lemos o c) isso não tem só a ver com pronúncia mas com etimologia. Nessa palavras, em italiano, escreve-se "battismo" e "fatto" mas só se diz um t. Essas coisas não são por acaso.
    A língua não é a mera transcrição fonética de sons. Para isso existem sinais fonéticos válidos internacionalmente. A língua é cultura. Se estivesse sempre a mudar só porque os modos de falar mudam, não teríamos uma língua mas várias, mesmo em Portugal.

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  12. Anônimo5:19 PM

    Abaixo as consoantes mudas!

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  13. A língua portuguesa ficará mais pobre. Só tirarão regras importantes da língua, quero ver alguém explicar a um estrangeiro, como se fala "conseqüência", sem este trema. Idéia sem acento, e estes tritongos e ditongos todos, ficarão ridículos e difíceis de se interpretar o som. Sinceramente, acho que nunca comerei "linguiça", e não darei "sequência" a nada. O trema é um acento tão simpático e importante... Sem contar que "vôo", sem o acento, fica com som de "vou", "crêem" fica como "crem", "vêem" fica "vem" de "vir". Acho que Portugal é o único lugar ao qual poderei recorrer, após esta mudança, mesmo que o trema já tenha desexistido lá. É com imensa dor que vejo essas mudanças... Pobre do portugês, pobre da cultura. Abraço. ^^

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  14. Ah!, sou a favor de adicionar algo à língua portuguesa, afinal, saber/riqueza cultural não ocupam espaço, mas tirar não.

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  15. Eu sou português y acho uma estupidez que façam isto! Se há coisa que os brasileiros deviam era continuarem a utilizar o trema, que em Portugal, devido a algum idiota, foi abolido... A mim que me foi ensinado Português sem trema faz-me imensa confusão como é possível que as pessoas não achem estranho "frequente" não estar mal! Estou sempre a dizer: "Se em frequente tirarmos o fre fica quente, não cuente". Nós que temos regras para tudo na língua portuguesa chegamos a ter "erros" tão estúpidos que nos fazem pensar "existem lingüistas muito burros" (sem ofensa aos burros, claro)...
    Outra coisa que acho mal é obrigarem tanto portugueses quanto brasileiros a escreverem duma forma que não aquela a que s'adaptaram. Em Portugal utilizamos pês e cês mudos não só por ser de origem latina ou grega (pelo menos do ponto de vista dos Lisboetazinhos que se pensam muito superiores - aínda há gente que os diz) mas porque fazem com que a vogal antecedente seja aberta (no Brasil não é necessário pois não têem vogais fechadas).
    Creio que não devemos "unificar-mal" desta forma pois cada dialecto adapta-se àqueles que os falam (Não estou a ver, por exemplo, os norteamericanos a mandarem os Britânicos escreverem como eles!). Creio que em Portugal só o trema se deveria adicionar; Creio que os h no meio das palavras (como em prohibido ou deshumidificador) se deviam manter como antes, principalmente em prohibido porque em Portugal lemos "pru-i-bi-du" [os o (ós) átonos são lidos "u" y só se leem "ó" quando estão na sílaba tónica ou quando há excepções inexplicáveis] y escrevemos proibido, aínda que "oi" seja um diptongo y se leia tal como no Brasil; Creio, também, que palavras terminadas em mente deveriam levar um acento grave como antigamente - por exemplo: ràpidamente.

    Atenção:
    1º - Eu escrevi "y" em vez de "e" (conjunção copulativa) porque não faz sentido um "e" ler-se "i" (em Portugal é uma excepção estúpida y sem explicação). De facto, cá tudo se explica com um irritante "é assim y pronto!".
    2º - Escrevi algumas palavras da maneira antiga portuguesa por haver adoptado para mim essa forma. No caderno diário, na escola, utilizo-a.
    3º - Não penso que os Brasileiros deviam adoptar a forma Portuguesa de escrever pois no Brasil lê-se como se escreve. Também, se nós escrevêssemos como no Brasil teríamos duas opções para que se lesse como se escrevesse - ou "imitávamos" a pronúncia brasileira (não estou a favor) ou "imitávamos" a pronúncia espanhola (também seria estranho).
    Enfim... se os nossos lingüistas não fizessem tanta porcaria com o nosso idioma evitar-se-iam confusões y ambigüidades... Para começar, anulava-se o (des)Acordo Ortográfico!

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