domingo, fevereiro 24, 2008

Aquelas revistas


Bom, há algum tempo eu acompanho um blog muuuito legal chamado "Para Ler Sem Olhar". Eu, uma jornalista prestes a fazer 50 anos, sou alguém totalmente sem ilusões nessa minha vida ora de um lado, ora de outro do tal "balcão". Por isso, achei bacana a discussão que começou lá no blog do Lelec, há dois posts. Ela começou a partir de um episódio específico, mas enveredou por um caminho muito interessante, que é a discussão sobre a "credibilidade" dos veículos de comunicação.

Veja você, por exemplo, o caso do Big Brother. Big Brother?? Jornalismo?? O que tem a ver uma coisa com a outra?? É um programa de entretenimento, nada a ver com jornalismo, OK. Mas vc pode pensar que ele tenta registrar a "vida real" daquelas pessoas que estão na "Casa Mais Vigiada do Brasil" (o Bial é jornalista, não é?) Até aí, tudo bem, fecha parênteses.

A verdade é que eu tb não sei de nenhum veículo de imprensa que tenha conquistado a credibilidade, aqui no Brasil, de uma "The Economist", por exemplo (pra citar apenas um). E aí, lembrei de uma historieta singela pra contar pra vc, leitor deste meu humilde Efeito Pimenta.

Era uma vez...
Estava eu querendo trabalhar naquela editora com nome de um mês do ano - era meu sonho dourado, by the way - quando consegui uma indicação de um jornalista amigo, para fazer uma matéria para a "Nova" (vamos dar nome aos bois). Como todo mundo sabe, o projeto editorial da Nova é chupado da Cosmopolitan. Até aí, tudo bem.

Eu, na minha santa ingenuidade de foca, com a cabeça povoada daquelas idéias de imparcialidade, verdade, jornalismo investigativo e que tais, recebo a tarefa de escrever uma matéria sobre saúde, baseada em uma tradução lá da Cosmopolitan. Aquela reportagem tinha uma personagem, que era uma secretária, lá da Quinta Avenida, sei lá eu. Mas a minha matéria não tinha personagem. Era uma entrevista com um médico brasileiro. Só isso. Não tinha "molho", portanto. Sabe o que a editora fez?? Na minha frente, me "ensinando"(!)? Ela "inventou" uma secretária fictícia, que trabalhava na avenida Paulista, praquela minha matéria!! Tudo bem, alguns vão pensar, que mal tem nisso?? Bom, pra mim, o sonho "jornalístico" morreu ali, naquele momento. É apenas uma historieta real esta, mas muito simbólica.

Você acha que em algumas editorias pode-se mentir e em outras não (política x femininas)? Você acha que hoje em dia não se faz mais isso (estamos falando de um fato ocorrido nos longínquos anos 80)? Você acredita naquela revista que pede para você abrir seus olhos e enxergar? Você acredita em Papai Noel? Coelhinho da Páscoa?

6 comentários:

  1. Pois eu vou lhe contar como foi que desisti de vez do jornalismo (pelo menos o que fazemos no Brasil):

    Trabalhava eu num certo jornal paulistano cujo nome é uma parte importante do símbolo dessa editora em que você queria trabalhar (hehehe, que confusão). No meio de uma dessas confusões do Oriente Médio, recebi a incumbência de "zapear" a internet atrás de opiniões sobre um determinado atentado. Pois bem, fiz meu relatório para o editor, e o que mais lhe chamou a atenção foram as palavras duras de um major da reserva do exército americano. Veja bem: major, não general. Da reserva, não do Estado-Maior... enfim. O editor disse: legal, escreva.

    Escrevi. Acontece que o tal do americano era um tremendo dum John Doe, mas eu tinha que mencioná-lo, porque o editor queria. Coloquei no último parágrafo.

    Evidentemente, o editor reescreveu meu texto, colocou o americano no lide e ainda veio me perguntar por que eu tinha posto o sujeito tão lá embaixo. Aí eu disse: "Pô, ele não tem rigorosamente nenhuma autoridade pra falar em nome do exército americano. É um major da reserva." Resposta: "E daí? O cara é americano e tá dizendo umas coisas pesadas!"

    Resultado: podemos muito bem ter publicado as declarações de um lunático qualquer... (e com meu nome, ainda por cima!)

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  2. Anônimo10:24 AM

    Pois então, jornalismo tem lado, sim.
    A gente vive falando em imparcialidade mas sabemos que, tristemente, ela não existe.
    O que eu faço, na minha vida de freela que já caminha para duas décadas, é escolher trabalhar do lado que me interessa e que eu acredito.
    Óbvio que as vezes faço trabalhos só para pagar minhas contas, mas tento manter a coerência comigo mesmo.
    Essa história de inventar personagens deveser muito, muito mais comum do que a gente pensa, mas é grave, sim. Não importa se pra falar de creme anti-rugas, buraco na rua ou crises internacionais.
    O quarto poder é representado pelos donos dos veículos e seus interesses e não por nós, massinha de manobra.

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  3. Olá Sílvia,

    A discussão desse tema vem em momento oportuno, sendo motivo de textos quase simultâneos aqui, no meu blog e no paralersemolhar, o qual, concordo, é muuuito legal.

    Contudo, ao contrário de você e do osrevni (Diego), não sou jornalista. Sou apenas um leitor que procura se informar e desenvolver opiniões de maneira honesta.

    Eu também não acredito em imparcialidade da mídia. A frase de Nelson Rodrigues é inquestionável: "o homem é capaz de tudo, até mesmo de uma boa ação; só não é capaz de uma imparcialidade".

    Até hoje, não descobri uma melhor maneira de estabelecer pontos de vista pessoais do que ler diferentes coberturas para o mesmo fato. Leio textos na Veja e na Carta Capital, visito o blog do Reinaldo Azevedo e do Paulo Henrique Amorim, leio Diogo Mainardi e Mino Carta. Converso com pessoas de diferentes posições e vivências políticas. Deparo-me com coisas boas e com grandes besteiras. E assim vou formando uma opinião.

    No meu modo de entender, o grande problema no Brasil é que não há contraposição ideológica de mídias na mesma força. A Globo reina sozinha. A Veja não tem concorrentes. Assim, elas estabelecem uma hegemonia que é nociva à construção de um pensamento crítico.

    Só nos resta buscar o discernimento e, com o amparo poderoso da internet e dos livros, tentar apreender informações honestas e dignas.

    Abraço e parabéns pelo blog,

    Lelec

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  4. É humanamente impossível ser imparcial, não é uma questão de uma atitude mais ou menos profissional A simples escolha do que é pauta e do que não é pauta já é uma bruta decisão moral e política; é preciso mesmo ser transparente a respeito do próprio processo que a notícia tem para adquirir aquela forma e postura (o que o jornalismo brasileiro, narrando através de personagens fictícios, está longe de ser)...

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  5. Anônimo5:46 PM

    Hoje são quase quatro anos de faculdade. Dos 6 períodos completos, em 4 deles eu estagiei. Já fiz impresso e agora assessoria. Já aprendi muito - o que fazer e o que não fazer. Já me decepcionei, frustei. Já me orgulhei. Mas nunca precisei mentir assim. Não deve ser fácil e o sonho deve cair por baixo mesmo. E olha que eu também almejo [ou almejava, vai saber!] trabalhar numa revista da tal editora com nome de mês... que medo de, de repente, acordar. Acordar e perceber que o sonho jornalístco acabou... que o mercado chegou e que no jornalisto tudo [ou quase tudo] é utópico. Será?

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  6. absurdoooo...nosssa...
    vc já tinha me contado essa história pessoalmente, mas ainda assim, fiquei novamente abismada. Como tem gente sem escrúpulos. E o pior é que acontece em todo lugar...

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