
É sempre la même chose: uma sala apertada, abafada, poucos lugares para sentar, poucos computadores e muitas pastas. Pastas a valer. Dessa vez, não havia nenhuma mísera linha telefônica. Um monte de assessores sorridentes, querendo parecer simpáticos e entusiasmados. Invariavelmente, tem aqueles pobres coitados que estão ali pela primeira vez e dá-lhe gafes:
- Você é de algum veículo?
Só que faz 500 e cacetada anos que você faz assessoria de imprensa...
- Sabe o fulano?
- Casaram??
- Não acabamos de nos separar...
Fora aquela sensação de dejà vu, aquela coisa que você lembra da pessoa mas sabe-se lá de onde...
E o seu cliente não se conforma: com tantos jornalistas ali reunidos, como você não consegue levar nenhum que seja ao estande para conhecer aquela linda e maravilhosa solução "xyz" que faz tudo e mais um pouco? Pior ainda é quando você tem que encher uma coletiva. No desespero, tá lá você convidando a tiazinha da limpeza ou o carinha do café só pra sentarem ali e fazer número. É, querido leitor, vida de assessor de imprensa nao é nada fácil.
Seu indefectível terninho preto e seu saltinho alto vão e vem entre a sala de imprensa e o estande do cliente "n" vezes, pra tentar "vender" alguma pauta, emplacar alguma entrevista com o executivo-mór da empresa que cruzou a cidade para estar ali, à espera de um milagre, da fama instantânea, dos negócios extraordinários. No fim da tarde, você simplesmente despenca em uma daquelas poltronas desconfortáveis, e fica torcendo pra tudo acabar depressa.
Claro que você dá um jeitinho de passear pelos corredores e espionar os brindes que estão sendo distribuídos. É tudo tão tecnológico que você vira um código de barras. Qualquer passo em falso, tudo fica registrado naquelas mesmas maquininhas que registram o preço dos produtos no supermercado. E você sente que falta pouco para que seja considerado apenas como mais uma mercadoria na prateleira.
Isso sem falar nos assessores da velha guarda que estão ali mais pra resguardar suas contas milionárias da fúria da concorrência. O mercado é selvagem. Por que você acha que existe aquela expressão "matar um leão por dia"? Hã??
E a comida que é servida? Quem tem a sorte e a esperteza de almoçar antes de se credenciar se dá bem. Mas não é o seu caso. Sua reunião estava marcada para as 12h30. Pronto. O almoço dançou... E dá-lhe sanduichinho de patê de fígado, canapés com o pão endurecido, sabe? Suco? Bom, se tiver sorte, você consegue um copo. Quente. Se quiser algo frio, tente o café. É tiro e queda.
Mas tem também o lado bom: ver que as pessoas se lembram de você, afinal. E mesmo aquelas que um dia puxaram o seu tapetinho e fizeram você levar aquele tombão, agora vêm assim, como quem não quer nada, com a maior cara de amnésia, te dar beijinhos e perguntar por onde você anda... Sei, sei.
Esse é o maravilhoso mundo dos bastidores da notícia da área de tecnologia. Onde todo mundo espicha os olhos para ler no crachá se você é de algum veículo ou se está ali apenas para roubar a atenção dos jornalistas para o tal produto ou serviço que vai revolucionar o mercado.
Amarga, eu? Que é isso... É só que depois de um 557.985.567 eventos, você fica um pouco mais crítico, com a realidade dos fatos.