Falei isso ontem à tarde com meus colegas de trabalho. Ele, do Rio. Ela, de Jundiaí. Todos morando e trabalhando em SP. No meu trabalho, somos mais ou menos 17 pessoas (se contei certo). Do Rio, há 4. Interior de SP: mais 4. E tem algumas pessoas que não sei de onde são. Eu nasci em SP, capital. Me sinto uma estranha no ninho. Minha cidade é a cidade de todo mundo e não é a cidade de ninguém. Por mais carinho que essas pessoas que não são daqui possam nutrir pela cidade (às vezes até mais do qu eu mesma), elas têm para onde voltar. Têm o seu lugar especial, o lugar da infância delas, onde passaram anos dourados, ou prateados, em companhia da família e dos amigos. Tem um lugar que reconhecem como sendo o delas. Eu não. Nos feriados, gosto muito quando as ruas ficam mais vazias, e quando o trânsito fica menos sufocante. Mas o fato é que eu não tenho aquele lugar especial para onde voltar.
Essa cidade é um rolo compressor. Ela mói as pessoas. Separa amigos antigos. A minha outra colega de trabalho comentou que as pessoas de fora acham um absurdo a gente ligar para saber se a pessoa está em casa antes de fazer a visita. Mas é que as pessoas que não moram aqui não calculam o que é bater com o nariz na porta, quando a sua visita envolve o fato de atravessar a cidade, da zona sul a zona oeste, por exemplo, ou da zona norte à leste. Simplesmente não dá pra perder a viagem. Perder tempo. Tempo é dinheiro, já dizia alguém. Em São Paulo, mais ainda.
Às vezes me sinto assim, desgostosa com a minha própria cidade. Sei que algum leitor poderá me compreender. Agora, por exemplo, que estamos em período de férias escolares, tudo fica muito mais amenizado. Fica mais fácil sair de casa todo dia de manhã e se dirigir ao local de trabalho. Mas em dias "normais", esse trajeto de todos os dias fica muito complicado. Isso porque não existem dias "normais" em São Paulo. Existem caminhões que quebram e interrompem o trânsito na cidade inteira, existem acidentes de todos os tipos, golpes cada vez mais criativo nos semáforos, e por aí vai.
Não é uma reclamação. É uma constatação. Triste. Porém verdadeira. Esse texto aqui é uma reportagem, uma crônica da cidade. Também falaram ontem que o Rio, afinal, não é uma cidade tão maravilhosa assim. Não concordo. Acho que se você pode ver o mar, no trajeto casa/trabalho, você já está no lucro. Aqui, no máximo, a gente vê o rio Pinheiros (ou o Tietê) - que não são assim uma visão muito agradável. Isso sem falar no cheiro (ou melhor, "fedô").
Por isso, ninguém entendeu quando eu falei que queria ser de algum lugar.
- Como assim? Mas você é daqui! - protestaram.
Sim, mas aqui não conta. Aqui é um lugar não-lugar.
Uma coisa vc tem razão, é boa a sensação de saber que tenho pra onde voltar se tudo der errado...
ResponderExcluirRealmente, é uma Paulicéia esquisita de vez em quando. As pessoas às vezes mal se notam, pelo contrário, te atropelam. E concordo, olhar pra praia ao ir trabalhar, seriam outros quinhentos...
ResponderExcluirEu queria ser da Finlândia. Gosto de rock melódico. Lá, esse tipo de música é como o samba aqui; lá, a F1 é que nem o futebol aqui; o verão de lá, é o frio daqui...
Gosto de SP nos feriados.
ResponderExcluirbj
Aposto que muita gente que não é de SP quereria ser... (evita discriminação)
ResponderExcluirbjuz naninha
E quando, por pior que seja, por mais que não se aguente mais, a gente sabe, não adianta, pertencemos a esse não lugar?
ResponderExcluirComo todo bom paulistano, detesto essa cidade, mas não consigo me imaginar vivendo em nenhuma outra.
Posso parecer ranzinza, mas, quando fico desanimado e deprimido, lembro de São Paulo, e imediatamente me sinto melhor. Afinal, por mais miserável que seja minha condição hoje, poderia ser pior...
ResponderExcluirMesmo com tudo isso que você escreveu sobre São Paulo, eu adoro esta cidade, apesar de algumas esquisitices dos paulistanos (como essa de achar necessário telefonar antes da visita).
ResponderExcluirHoje, não troco São Paulo por nada; nem mesmo pelo Rio de Janeiro, onde nasci, e que a cada ano que passa fica cada vez mais decadente (não acreditem na lorota da "Cidade Maravilhosa").
São Paulo, com todos os seus senões, liberta.
ResponderExcluirAcho as metrópoles, qualquer uma delas, pouco ou nada saudáveis, no entanto dão essa sensação de liberdade que as pequenas cidades nos tiram.Deixo claro que falo de uma liberdade conceitual, uma liberdade de afazeres e possibilidades.
Embora não seja daqui, quando penso em voltar é em São Paulo que penso.